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Leia a íntegra do discurso de posse do ministro Brizola Neto

Excelentíssima senhora presidenta da República
 
Há dois dias comemoramos o Dia do Trabalho, mas nenhuma comemoração poderia ser mais significativa do que aquela que, todos os dias nos últimos anos, vem permitindo que milhares de homens e mulheres possam deixar de viver as angústias e privações que durante décadas, assolou o povo trabalhador deste país.
 
Em 9 anos, o Brasil conseguiu praticamente extirpar um desemprego que, mais do que um problema, já passara a ser visto como uma fatalidade, um componente – entre aspas – necessário a uma economia em desenvolvimento, porque o pleno emprego seria um privilégio reservado às nações desenvolvidas, aos países ricos, à aqueles que nos eram apresentados como fonte de lições e modelos a seguir.
 
Que o desenvolvimento antecedia a justiça, senhora presidente, era uma ideia tão óbvia que merecia ser colocada no rol daquelas que Darcy Ribeiro cita no seu genial livro “Sobre o Óbvio” como daquelas muito tolas, mas acreditadas por muita gente durante muitos anos, como a de que é o sol, todos os dias, quem da volta em torno da Terra.
 
Acreditou-se nisso, muito embora a história brasileira e a história de muitos povos tenham mostrado que o desenvolvimento sem justiça social não é apenas uma iniquidade, mas uma impossibilidade. Uma impossibilidade, uma construção tão precária que era incapaz de se sustentar.
 
Incapaz de se sustentar como projeto de um país, mas capaz, porém de sustentar e eternizar privilégios para uns poucos e o atraso para a imensa maioria de um povo.
 
Mas era óbvio, evidente, natural e imutável. Não era assim a menos de um século e meio que se via a escravidão dos nossos irmãos negros para o Brasil agrário? E depois, a república velha, com a tristemente famosa visão de que a questão social era um caso de polícia?
 
O Brasil moderno, o Brasil da indústria, o Brasil com aspirações próprias, nasceu, justamente, com a inserção das massas trabalhadoras no mundo das garantias, dos direitos, das preocupações do Estado e de relações minimamente – minimamente - humanizadas. Numa palavra no reconhecimento de que o trabalho não era apenas uma matéria prima a ser queimada no processo produtivo, mas um elemento essencial na formação de um país, e uma condição indispensável a um país que pretendesse ser uma nação.
 
Ali, no período Vargas, com as vicissitudes que possam ter havido, começou-se a romper um mito de que o trabalho era apenas uma mercadoria a ser negociada com a liberdade selvagem, que desconhece que os fracos nada podem contra os fortes.
 
Se o Ministério que assumo hoje nasceu nos anos 30, a necessidade de que ele equilibre aquelas relações continua atual e imperiosamente necessária. Ainda hoje em um jornal se escreve que a presença do Estado como elemento na obtenção deste equilíbrio sem o qual não há nem justiça, nem progresso, nem humanidade, seria um anacronismo, e que o mercado, este mesmo que estamos vendo lançar à fogueira toda uma geração de jovens em países onde se seguiu a risca o receituário neoliberal.
 
É esse o óbvio ou é apenas um embuste para retroceder no processo inexorável de transformação do Brasil em uma democracia que se expresse não apenas do ponto de vista formal, mas também no econômico, no social.
 
Não se quer dizer que as relações de trabalho não devam ser modernizadas, sobretudo num tempo em que o mundo experimenta inovações tecnológicas numa velocidade inédita, nem, também, num momento em que o Brasil vive como nunca antes um salto de progresso econômico que o tornou, finalmente, um país visto pelo mundo com a grandeza que de fato possui.
 
Vivemos – mais que isso – necessitamos que a presença do Estado nessas funções reguladoras se atualize, que se agilize, e que se simplifique. Mas também que avance no caminho da valorização do trabalho, da dignificação do trabalhador e no do entendimento de que é o ser humano o princípio e o fim de toda atividade econômica. 
 
Essa visão, senhora e senhores, não é, absolutamente, um óbice à liberdade empresarial. As empresas mais modernas e mais eficientes são aquelas que entendem seus trabalhadores como parte – e parte preciosa – do seu capital. Eles são as mãos e o cérebro da produção, da eficiência e da competitividade que geram o movimento e a riqueza sem os quais não há avanço e nem progresso.
 
Por isso mesmo não é apenas do trabalhador, mas também da empresa, o interesse em que as relações de trabalho aprimorem-se, evoluam e, produzindo riqueza, também produzam o consumo, a justiça social e que, num círculo virtuoso, isso se auto alimente no que se chama de desenvolvimento sustentável.
 
Se o trabalho é, portanto, parte da coluna serviçal do Brasil desenvolvido, justo, que vai se erguendo, o Ministério do Trabalho deve, indispensavelmente, estar à altura desse imenso desafio.
 
É preciso que seja ágil, transparente, inovador. Precisa fazer parte da discussão, da formulação e da implementação de políticas econômicas e sociais que nos conduzam pelos caminhos que, finalmente, hoje se abrem para o nosso país. E o caminho das sociedades humanas, senhora presidenta e queridos amigos, tem o nome de história. Ela é muito maior do que os nossos pequenos desejos, mas é também o retrato da soma milagrosa que esses pequenos desejos individuais numa coletividade, geram uma vontade capaz de conduzi-la a transformação da vida.
 
Muito mais do que a mim é a essa história que devo o fato de que a generosidade e a ousadia da presidenta escolhida pelos brasileiros ter trazido este jovem a tamanhas responsabilidades e desafios.
 
O sobrenome que possuo, integra a linhagem de brasileiros ilustres que se inicia com Vargas, prossegue com João Goulart e flui para figura querida e saudosa de meu avô Leonel Brizola, este sobrenome está – e não pela minha humilde presença - indissoluvelmente ligado a essa trajetória que agora se redesenha com Luiz Inácio Lula da Silva e hoje com Dilma Rousseff.
 
Se os homens e mulheres desenham, cada um deles, pequenos pontos na linha que forma o fio da história, também a história desenha no comportamento desses homens e mulheres o perfil e o tamanho que o destino lhes está a exigir.
 
Por isso, mais do que a honra desse convite, o que preenche meu coração e meus pensamentos neste instante, é o dever de corresponder aos grandes desafios dos quais falamos. Mais do que as limitações pessoais que minha juventude possa trazer, devo tirar dela sempre inconformismo e a ânsia de mudar para melhor. São eles que têm o poder de fazer com que qualquer homem ou mulher não perca jamais, em qualquer idade, a juventude. Porque conserva a capacidade de sonhar, de querer o bem, de amar seus semelhantes mais do que a si mesmo.
 
Porque jamais se acostuma à ideia de que o que é fácil, acomodado e conveniente possa tomar o lugar daquilo que, embora áspero e difícil, esteja pleno de grandeza e de humanidade.
 
O Brasil, senhora presidenta, pelas suas mãos - como antes pelas mãos de Lula - vive um momento luminoso de sua história. Não temos apenas o ciclo de progresso econômico, mas experimentamos um avanço social que incorporou mais de 40 milhões de brasileiros à vida moderna, onde a conquista do consumo, de níveis básico de conforto e, sobretudo, do desejo de continuar progredindo torna o nosso país uma nação num momento muito especial.
 
Em cada brasileiro e brasileira, em cada um de milhões e milhões de irmãos de pátria, formou-se a ideia de que é possível uma nova vida, de que o nosso país tem um destino, um destino próprio e soberano, que este gigante não nasceu para ser colônia ou caudatário, e que este povo não está fadado a ser pobre e ser infeliz.
 
Quem viu a face da esperança depois de tanta treva e sofrimento não há jamais de tirar seus olhos e o seu coração do brilho da luz de um novo Brasil.
 
Muito Obrigado






 



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