São ao todo 39 trabalhadores encontrados em situação análoga a de escravo, já retirados de madeireiras locais e que estão de retorno às cidades de origem
Porto Alegre, 22/11/2007 - As rescisórias trabalhistas e a indenização por danos morais dos 39 trabalhadores encontrados em condição análoga a de escravo no interior do município de Cacequi (RS), no sábado (17), foram pagas nesta quarta-feira (21) e o grupo já retornou para as cidades de origem. Hoje à tarde (22) será efetuado o pagamento de outros oito trabalhadores. O translado e as despesas com o hotel, onde ficaram hospedados, foram pagas pela empresa madeireira para a qual trabalhavam. A empresa pagou até agora R$ 289 mil, entre rescisões contratuais e indenizações por danos morais.
"Durante os interrogatórios descobrimos que havia outras frentes de trabalho na região e chegamos ao total de 47 trabalhadores", esclarece a subdelegada unidade da Delegacia Regional do Trabalho no Rio Grande do Sul (DRT/RS) em Santa Maria e auditora fiscal, Maria de Fátima Castro, que participou da operação.
A denúncia chegou às autoridades na última terça-feira (13), quando um trabalhador conseguiu sair do local e percorreu à pé 30 km até Cacequi, onde relatou o fato à polícia. Na quarta-feira (14), quatro auditores fiscais da DRT/RS, um procurador do Ministério Público do Trabalho e a Brigada Militar foram ao local averiguar a denúncia. No interior da plantação de eucalipto, localizaram os trabalhadores através do barulho das motosserras e constataram as condições desumanas de trabalho. No sábado (17), os órgãos envolvidos montaram uma força-tarefa e retornaram ao local com a Polícia Federa e resgataram os trabalhadores.
O grupo trabalhava no corte de eucalipto que seria transformado em blocos de sustentação para trilhos. Oriundos do Paraguai, Mato Grosso do Sul e de Alegrete (RS), os trabalhadores se encontravam em condições desumanas, alguns com mulher e filhos pequenos, alojados em barracas de plástico e sem alimentação adequada. No local, viviam quatro mulheres e três crianças.
Os trabalhadores consumiam água contaminada de uma sanga e pagavam pela comida precária que recebiam e pelos equipamentos de trabalho. "Nenhum tinha carteira de trabalho assinada e, com os descontos, alguns recebiam menos da metade do salário ou estavam em débito com a madeireira", explica a subdelegada. Além disso, não utilizam equipamentos de segurança e nem tinham horário fixo de trabalho. "Eles relataram que trabalhavam de sol a sol durante os sete dias da semana", fala Maria de Fátima. Apesar de poderem folgar uma vez por mês, para chegar até a cidade mais próxima era necessário pelo menos 10 horas de caminhada.
Assessoria de Imprensa da DRT/RS